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Criei este blog com o principal intuito de difundir nossas raizes, as riquezas da nossa terra e a cultura do nosso povo.
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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A solidariedade desmistifica paradigmas e faz alavancar resultados promissores

Quando assumi a direção da Escola Municipal Dona Margarida Maichê Sallaberry, no Assentamento Novo Arroio Grande, distante 15 quilômetros da cidade de Arroio Grande (RS), tinha em mente fazer um projeto de gestão específico. Algo voltado não só para a educação sistemática dos alunos, mas para de fato conhecer, envolver, comprometer, estabelecer parcerias e, dentro do possível, ajudar as pessoas daquela comunidade a obter uma melhor qualidade de vida. Isso com certeza refletiria de forma positiva na nossa escola.

Com a compreensão da necessidade e da importância da proposta, obtive a autorização das autoridades competentes e a liberação de transporte destinado à realização de visitas domiciliares. Assim, poderia conhecer um pouco mais a realidade de nossos alunos.

Meu Deus, e que realidade! Em apenas dois dias de visita já pude ver o quanto eu precisava interagir com aquela comunidade para contribuir para uma transformação social que era urgente.

Essa realidade de que falo é semelhante ao cotidiano de Josiane Silva, mãe de sete filhos, dos quais cinco estudavam em nosso educandário e viviam em condições subumanas, morando em um lonão (em um assentamento). Por questões burocráticas, por medo de perder seus filhos e por desconhecer a lei, a mãe se calou até o dia em que se sentiu à vontade para conversar com a diretora da escola das crianças. Pediu-me ajuda para a alimentação, que era o mais importante para ela naquele momento. Disse-me que tanto ela quanto o marido estavam desempregados e não recebiam Bolsa Família, pois o cartão estava bloqueado por problemas com a documentação.

Segurando seu filho menor, que não parava de chorar, me contou que ao ver que estavam sendo feitas visitas para conhecer a realidade da nossa comunidade escolar, sabia que em breve iriam falar com ela e seria impossível negar as condições precárias em que vivia (sem banheiro, água, luz...). Por isso, preferiu ela mesma ir até a escola, pois “não dava mais para esperar”. Não tinha o que dar para os filhos comerem.

Depois de ouvir a mãe, acompanhei-a e conferi in loco a triste realidade de que ela falara.

Outra cena triste que presenciei foi quando a mãe contou que tinha muito medo do Conselho Tutelar, pois sabia que estava passando por momentos difíceis, mas os filhos eram o bem maior que ela possuía e não queria perder nenhum.

Talvez por esse medo, e por desconhecimento do tão famoso ECA, ela tivesse deixado a situação chegar a esse extremo.

Naquele mesmo dia, foi lançada uma campanha em caráter emergencial para arrecadação de alimentos. À tarde, fui ao Conselho Tutelar e, quando registrei o fato, a conselheira me tranquilizou ao informar que o artigo 23 do Estatuto protege a família nesses casos e Josiane não perderia a guarda de seus filhos, de maneira nenhuma. Por meio da solicitação que fiz ao Conselho, a mãe pôde, no dia seguinte, contar com a Assistência Social do Município, que também tomou providências para o desbloqueio do Bolsa Família, auxílio na alimentação e inclusão de um dos filhos, que tem necessidades especiais, no benefício Loas (Lei Orgânica da Assistência Social).

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) entrou em contato novamente com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e informou que a liberação dos primeiros fomentos, que dizem respeito ao crédito para suprir as primeiras necessidades básicas como alimentação, moradia e ferramentas para o trabalho, sairia em poucos dias.

Com isso, por ser beneficiária da Reforma Agrária, em breve a família receberá os meios necessários para instalação e desenvolvimento inicial: Apoio Inicial; Apoio Mulher (já que ela é a dona do lote de terras); Aquisição de Materiais de Construção; Fomento; Adicional do Fomento; Semiárido; Materiais de Construção; Crédito Produção e Crédito Ambiental.

Essa experiência mostrou a importância de se ter conhecimento dos nossos direitos como cidadãos, e que quando estamos fragilizados, impotentes, enfraquecidos, precisamos nos unir, buscar parceiros, forças, ter humildade e mostrar que acima de tudo somos gente, seres humanos!

Os filhos são os bens maiores de uma família, e o ECA é um Estatuto que deve ser muito bem trabalhado nas escolas, porque serve para proteger a criança e o adolescente, mas não para intimidar os pais.

Continuei a busca por informação e por parceiros que, assim como eu, defendem a ideia de que a escola deve ser um lugar de conhecimento e informação, não só para os alunos, mas para a comunidade de que ela faz parte. A escola precisa quebrar tabus, medos e mostrar na prática atitudes de cidadania, amor ao próximo e desprendimento, porque só assim ela será capaz de atuar como instrumento de efetivação de direitos e de transformação da vida.

A solidariedade encontrada na nossa escola desmistificou paradigmas, principalmente com relação ao ECA, e fez alavancar grandes resultados.
Gisiane Vieira Añaña é licenciada em Letras e especialista em Gestão Escolar, com foco de pesquisa na implantação de escola em tempo integral no campo e mestranda da Faculdade de Educação em Pelotas (RS).

Ajude Gisiane receber o merecido mérito, entrando no site
 http://www.pro-menino.org/causos6/votacao/textos/?causo=757
e votando para este causo publicado acima.
Ato de humanidade acima de tudo!!!

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